segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Brasil para os brasileiros: a hora é de união!


Falta praticamente um ano para as eleições de 2018. Tão ou mais importante que as eleições que marcaram o processo de redemocratização do Brasil - haja vista a violência à ordem democrática e constitucional advindas com e depois do golpe de 2016 -, as próximas eleições serão cruciais para a reversão das ações golpistas em curso, caracterizadas pelo desmonte do Estado e das políticas sociais, pilhagem do patrimônio público e submissão do país aos interesses do rentismo internacional, no plano econômico, e dos Estados Unidos, no plano geopolítico.

A extensa coalizão que montou e executou o golpe tem dado alguns sinais de fraturas. Mas, não nos enganemos. O grupo tem, pelo menos, um denominador comum: inviabilizar, a qualquer custo, uma candidatura que ameace os interesses dos atores que tomaram de assalto o poder. Em outras palavras, extirpar qualquer pretensão do campo popular-democrático e progressista que apresente uma viabilidade eleitoral.

Além das manobras executadas por Temer, Aécio, Gilmar et caterva, há uma série de sinais que são emanados pelo “centrão”, no Congresso, e pelos parceiros (do golpe) na mídia, no empresariado e no poder judiciário a sinalizarem que nem mesmo a democracia de baixíssima intensidade será tolerada se isso significar uma reversão dos intentos da trupe dos golpistas.

Isso significa que caberá aos setores social-democráticos, de esquerda e do campo popular se unirem para contrapor a coalizão golpista. E, somente uma ampla concertação nacional, que envolva lideranças políticas, sociais, sindicais, religiosas e intelectuais terá força necessária e suficiente para enfrentar e derrubar o poderoso grupo no poder.

Uma concertação política é diferente de uma coalizão política. Primeiro, porque não se trata de uma conciliação de interesses.

Enquanto a coalizão é formada por atores que têm ideias e crenças similares e se associam tendo em vista objetivos comuns, uma concertação é fruto de um esforço muito mais amplo. Envolve diferentes atores políticos e institucionais e as organizações da sociedade, nem sempre com os mesmos objetivos. O grande desafio é recolocar a democracia no centro de todos os interesses:  trata-se de um projeto para o país, para além de empenhos imediatos e, às vezes, mesquinhos e eleitoreiros. Ademais, exige que os líderes das forças progressistas estejam dispostos a negociar com generosidade, o que significa abrir mão de posições cristalizadas que impedem o diálogo e a ampla composição.

 Vamos, então, dar nomes e apontar responsabilidades: em primeiro lugar, é preciso que Lula e o PT assumam, com humildade e desprendimento (e isso não é pouca coisa), o protagonismo nessa empreitada. Os protagonistas, que fique claro, não têm vantagens; têm responsabilidades.

Assim, cabem a Lula, pelo capital político e eleitoral que tem e ao PT, pelo fato de ser o partido, no campo social-democrático e popular, com maior capilaridade e densidade eleitoral liderarem o processo. Para tanto, ambos os atores devem ter a grandeza de fazer autocríticas e se disporem a pactuar uma ampla aliança com a participação ativa de outros atores.

Compete ao PT e a Lula, por exemplo, esclarecerem à sociedade que arco de alianças estão dispostos a assumir. O velho pacto entre elites, além de não garantir viabilidade eleitoral, certamente não aglutinará boa parte de segmentos importantes das esquerdas e da classe média que não aceitam conchavos eleitorais em detrimento da ética e de projetos programáticos de governo e de país. Ademais, Lula e o PT precisam entender que concertações nacionais demandam a cessão de espaços de poder, para além dos discursos e das estratégias eleitorais.

Os demais atores, por outro lado, precisam entender que somente com um amplo arco de alianças eleitorais será possível derrotar o grupo que solapou a democracia. Portanto, purismos e discursos vazios, lançado à plateia, devem ser superados. O cálculo eleitoral, baseado em critérios objetivos e éticos, deve ser considerado.

Dilma, a presidenta injustamente deposta, é figura importante no centro dessa pactuação: tem um bom capital político, auferido pela sua postura honesta e aguerrida durante todo o processo de impedimento, além de representar extraordinários segmentos sociais, como o das mulheres.

No campo das esquerdas, outros partidos com o PDT, o PSB, o Psol, o PCdoB devem assumir as responsabilidades pelo momento histórico, superando divisões pragmáticas e atitudes ensimesmadas. Tais partidos precisam compreender que a aposta no fracasso do PT ou a pretensão de assumir o seu lugar no cenário político não colabora na construção de uma ampla aliança contra os golpistas e inviabiliza uma concertação nacional.

É preciso que as lideranças desse campo estejam em condições simétricas nessa engenharia, se se objetiva a formatação de uma potente concertação. Políticos como Marcelo Freixo e Ciro Gomes, que podem colaborar substantivamente com processo, precisam ser convocados e devem “baixar a bola”.

Do campo de centro-esquerda há lideranças políticas que podem contribuir decisivamente na construção de alianças internas aos seus respectivos partidos, engrossando a concertação. Para citarmos um exemplo, o senador Roberto Requião, do PMDB.

Até mesmo partidos e políticos liberais de centro, do campo democrático, não devem ser descartados numa concertação programática.

Fundamental para o sucesso de uma aliança progressista e democrática é a participação das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Assim, lideranças como Guilherme Boulos e João Pedro Stédile são imprescindíveis.

Personalidades do mundo intelectual e artístico, que sejam representativas do campo democrático, precisam ser acionadas a colaborarem nessa empreitada. Elites intelectuais, artísticas e religiosas são importantes catalizadores de apoio no seio da sociedade e junto a segmentos cambiantes, principalmente da classe média.

Da mesma forma, líderes progressistas de entidades da sociedade civil, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Ordem dos Advogados do Brasil (duas entidades visivelmente divididas pelos interesses dos múltiplos grupos que as compõem, mas cujos quadros progressistas são fundamentais no processo de concertação nacional). Sem a adesão de instituições sociais de peso, como ocorreu no processo de redemocratização, não será possível uma concertação nacional-democrática.

Como escreveu o midiativista Ricardo Targino, vivemos não somente um golpe. Trata-se, também, de uma guerra: “um tipo complexo e não convencional de intervenção contra a soberania nacional. Só uma guerra é capaz de justificar o incremento brutal da violência, da criminalidade, da sensação de insegurança e do medo no Brasil pós-impeachment. Só uma guerra é capaz de explicar o desmonte do Estado brasileiro e a entrega do patrimônio público e dos recursos naturais do país ao capital privado internacional.”

Numa guerra, tão importante como uma boa estratégia de disputa e o dimensionamento exato do potencial do adversário é conseguir congregar o máximo de forças e de múltiplas energias para o enfrentamento do inimigo. Assim, somente uma ampla concertação nacional terá essa capilaridade e potência.

Portanto, aos líderes democráticos e populares serão creditados os bônus se o Brasil conseguir vencer a batalha eleitoral do ano que vem, com vistas à reversão dos efeitos danosos do golpe. Da mesma forma, a eles serão também debitados os ônus, caso não consigam construir uma concertação nacional capaz de enfrentar e vencer os golpistas e tudo o que eles representam.

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